9 de maio de 2010

Um tempo dificíl mas de muito aprendizado!!

Eu estava me preparando para pegar meu plantão no hospital,trabalhava na época no hospital Santa Margarida,quando entrei no quarto de minha mãe e ela estava se auto-examinando no espelho,havia um nódulo em sua mama e ela só se preocupou porque começou a doer e só me contou porque eu entrei no quarto e vi aquela cena que nunca vou me esquecer.Eu não podia imaginar que avalanches de acontecimentos estavam por vir em seguida,na biópsia já foi diagnosticado um cancêr bem avançado.A esperança de adiar a morte e esticar a vida por mais tempo era uma mastectomia total,seguida por sessões de quimioterapia,fui eu com partilhar tudo isso com minha companheira de toda
vida.Assisti a cirurgia que durou sete horas.Meu Deus quanto sofrimento!Nesse período eu me casei e levei minha mãe para morar comigo...logo engravidei,e ela foi ficando tão bem, feliz com minha gravidez..que eu quase me esquecia que havia um monstro meio adormecido por medicamentos ali dentro dela.Ela curtia cada dia ,cada segundo da minha gravidez era uma tentando fazer tudo o que a outra queria,era o amor transbordando e acalentando o medo da morte a insegurança de ter o primeiro filho.Hoje tudo isso parece uma coisa comum,mas há vinte e um anos atrás isso me pareceu um binômio ganho/perda e me causou muita raiva uma raiva que fervia dentro da minha mente com a mesma intensidade que o bebe crescia em meu ventre e chutava me avisando que estava chegando.Porque minha mãe que parecia estar tão bem,estava com os dias contados?Deus estava trocando comigo?Era dar com uma mão e tirar com a outra?
Eu não achava justo com minha mãe eu ficar feliz com a chegada do bebe e não achava justo com o bebe o fato de não estar cuidando só dele ,do seu bem estar...A atenção com os preparativos e pré -natal eram divididos com cápsulas,seringas ,endorfinas alimentação diferenciada pra minha mãe.O bebe acabou nascendo de oito meses e ficou dez dias na emcubadora e deu duas paradas cardíacas quase enlouqueci...perder duas pessoas amadas ao mesmo tempo?Foi quando a raiva me deixou incandescente,não era programa de tv,era drama da vida real,da minha vida ,do meu marido e da minha filhinha que acabara de nascer...Era um conflito de emoções,raiva,medo,piedade,esperança,descrença.Não importa que a pessoa que amamos esteja doente queremos que ela viva,não queremos perde-la para a morte.É o nosso egoísmo de querer tudo para nós,mesmo uma pessoa querida doente e sofrendo queremos vê-la alí por perto com seu sofrimento seus triunfos passageiros sobre a doença,não importa ela era minha mãe e agora minha filhinha também na mesma situação..com a vida por um fio.E eu com os peitos cheios de vida para amamenta-la e ela não aguentava o esforço de sugar e era alimentada por sonda.Engraçado eu olhar aquele corpinho tão minusculo,tão frágil e me lembrava de minha mãe em como ela me amava e me consolava,mesmo doente e sem saber o que tinha(ela morreu achando que tinha pneumonia eu nunca contei que ela estava com câncer e que ele havia tomado todo seu pulmão)Eu queria que ela se sentisse a vontade com o bebe,e ela dizia confie em Deus minha filha,ore,deposite nas mãos dele todo seu medo de perder sua filhinha.Minha filha saiu do hospital com um quilo e oitocentos gramas necessitando de atenção todo o tempo por incrivel que pareça minha mãe estava numa fase boa de seu tratamento,estava se sentindo bem e me ajudou com a Danielle,eu olhava as duas juntas e tão ligadas que todo o resto parecia um grande engano, minha mãe que era meu tudo e minha filhinha! Ela ficou tão feliz com a chegada da netinha,que por vezes parecia ter vencido a doença.E foi numa tarde assim que estávamos as três juntas que aquela tosse seca interminável chegou em minha mãe,para mim era como se não fosse tosse,era um grito de PARA ..eu voltei estou aqui..a maldita doença.Nessa época minha filha já estava com onze meses e espalhava vida fresca pela casa com aquele jeitinho diferente de engatinhar..minha mãe ria vendo-a engatinhar ela arrastava o bumbum no chão.Eu e meu marido providenciamos tudo para que minha mãe não ficasse hospitalizada pela dificuldade de respirar,preparamos uma enfermaria no quarto da Danielle com aparelhos de oxigênio e tudo o mais que fosse necessário,o médico ia a nossa casa,e nos avisou que quando o oxigênio estivesse no último grau deveriamos correr com ela para o hospital e assim foi que há vinte e sete anos atrás ela se foi.
Deixou para todos nós os filhos exemplos de amor,de indulgência,de caridade,de paciência minha mãe até hoje foi a segunda pessoa que conheci que cumpria exatamente as máximas do evangelho amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo.OBRIGADO MEU DEUS POR TER SIDO FILHA DESSA MULHER MARAVILHOSA .TE AMO MÃE!!!

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